domingo, 10 de outubro de 2010

PRIMEIRO PASSO

"Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas vidas haviam se tornado incontroláveis."
A admissão é o primeiro passo. Aceitar a impotentência perante o álcool e as drogas. Quando eu pedi ajuda eu havia chegado ao meu fundo de poço. Não havia mais perspectivas em minha vida. Eu me agarrava à beira do abismo com apenas dois dedos de uma das mãos, meus pés não sentiam nada a não ser o vazio do precipício chamado fim. Lembro me que já não aguentava mais. Não aguentava mais nada. Então pedi ajuda. Dentro da primeira instituição em que fui internada por minha mãe vim a conhecer os doze passos. Dei então o primeiro passo.. aceitei, admiti que havia perdido para minha minha adicção. A possibilidade de que eu era doente e que não fosse uma simples sem-vergonha me atraiu. Podia assim me permitir tratar essa doença. Logo me entresteci ao saber que essa doença, a adicção, não tinha uma cura. Não era como pegar uma gripe ou ter pedra nos rins, onde certo tempo de tratamento ou mesmo uma cirurgia viessem a remover de mim a doença. Era como a Aids ou como o diabetes. Descobri que a adicção faria parte de mim até o fim dos meus dias e que a única coisa que caberia a mim era manter minha doença estática e não voltar a fazer uso de nenhuma substância que alterasse meu humor. Qualquer porção que fosse.. Um gole de cerveja vai desencadear uma sucessão de outros goles e fazer com que meu alcolismo fique ativo novamente. Uma tragada num baseado, o mesmo. Um carreiro de pó, por mais que eu pensasse e me manipulasse para que fosse só um, faria com que eu após este uso estivesse nas mãos de um traficante novamente, deixando com ele meu dinheiro, celular, câmera digital ou até mesmo este notebook que uso agora. Ou seja, eu não poderia usar nem um pouquinho novamente. Acredito que esta parte foi a mais difícil de aceitar.
Eu queria tanto poder tomar um gelo com amigas na festa do findi, tomar uma latinha de Brahma após um dia de trabalho estressante, tomar um cálice de vinho com aquela pessoa especial (main jaanu) num ambiente romântico, antes de fazer amor. A idéia de NÃO PODER NEM MAIS UM POUQUINHO, confesso, até hoje me é conflitante. Chego a me flagrar diversas vezes durante o dia me manipulando para beber, pelo menos só um pouquinho.
Hoje sei por experiência própria que um gole da bebida alcólica que for pode acabar com a minha vida, pois depois desse gole inicial vem um alcolismo ativo que vai me levar novamente às bocas de fumo, às agulhas sujas e à vida à margem da sociedade.
Eu sou uma adicta, sou impotente à minha adicção. Minha vida estava incontrolável. Hoje estou abstinente, retomando minha recuperação. Venho de uma recaída. Há 5 meses e meio atrás eu dei ouvidos à voz manipuladora da minha dooença que me dizia que eu podia tomar só um copo de cerveja. Deste copo quase veio a morte, porque eu permiti minha doença ficar ativa novamente. Foram 4 dias vivendo novamente no inferno da adicção ativa.
Só por hoje estou decidida a me manter sóbria, fazendo sempre que necessário o primeiro passo, quantas vezes for preciso durante o dia. Só por hoje!
Estar sem uso de nenhuma substância que me altere por mais de cinco meses é apenas uma consequência do que tenho feito diariamente da minha vida. Diariamente faço e refaço este primeiro passo.
Desejo a todos os leitores, adictos ou não, mais 24 horas de bons momentos.

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