domingo, 27 de fevereiro de 2011

ETERNA APRENDIZ

"Eu sei.."
Pois é! Saber tudo é algo impossível, mas adoro pensar assim. Creio que esta auto-suficiência é um grande impecílio em minha vida. Saber tudo pode me fechar portas e janelas de conhecimento que podem vir a me ajudar a melhorar como ser humano.
A partir do momento em que eu fixo em meu pensamento que "eu não sei" (tanto quanto deveria saber, tanto quanto gostaria de saber), abro um leque de oportunidades de aprendizado. Estar aberto a aprender, a conhecer e a descobrir é o que vai me ajudar em minha caminhada, não só na da sobriedade, mas na da vida.
Quero manter em meu pensamento que devo continuar como uma eterna aprendiz, só por hoje. Hoje é o dia de ouvir outras pessoas, dia de perguntar aos outros suas perspectivas em relação ao que estou vivendo, hoje é dia de aprender, um pouquinho mais, sobre a vida.
"Eu gostaria de ouvir sua opinião."; "Gostaria de saber o que você vê em sua perspectiva."; "Poderias me falar um pouco mais a respeito?"; "Me mostra outra maneira de fazer?".
Eu sei, na realidade, muito pouco. Preciso aprender a cada dia como viver melhor, libertar-me da auto-suficiência e encarar a realidade de que, por toda minha vida, serei apenas uma aluna da professora vida.
Sou grata ao Programa de 12 Passos, ao meu amantíssimo Poder Superior e a minha madrinha de recuperação. Estes têm sido professores para mim, eterna aprendiz.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

DOIS PALMOS

Dois palmos é o tamanho do meu antebraço. Essa é a distância entre a droga e eu.
Por mais perto ou longe que possa estar o traficante, isso não importa, a diferença entre minha recuperação e a minha morte tem o tamanho de dois palmos.
Falar sobre minha ativa numa conversa que iniciou inocentemente fez com que eu me lembrasse desses dois palmos de distância novamente. Uma saudosista recordação, vangloriada pela minha doença - adicção, deu-me 24 horas de autopiedade, melancolia, tristeza, ansiedade, irritação e desejo inconsciente de autodestruição. Então lembrei muito desses dois palmos, refleti, pensei e, por fim, decidi: Vou manter aquela grama de branca afastada de mim, pelo menos dois palmos afastada. Só por hoje eu não estico o meu antebraço para o traficante, pegando a morte em forma de peteca, prazer e sangue.. só por hoje!
Percebi que falar sobre a minha drogadição ativa ainda pode me deixar muito perturbada. Notei-me trêmula, tonta, com a pressão arterial muito baixa. Meu apetite ficou nulo. Minha aceitação estava a nada. Irritada, arrisquei magoar as pessoas que amo e que me cercam, que são as que se preocupam comigo e estão do meu lado. Minha mãe guerreira e maravilhosa, sempre serena.. me pediu um abraço e que eu fosse numa reunião de Narcóticos anônimos hoje. Meu amor, também adicto em recuperação, apontou-me todos recursos e ferramentas; sem ele ao meu lado eu, hoje, teria tido mais dificuldade em me manter dois palmos distante da droga. Carinhoso e amoroso, eu o considero o maior presente de meu Poder Superior, no dia de hoje, em minha vida. Estes dois amores que tenho fizeram toda a diferença no dia de hoje. Por pior que eu estivesse, estes meus amores foram minha razão no dia de hoje. Foram a razão de eu manter-me dois palmos afastada da minha morte.

Dois palmos, medida simples. É a distância entre o adicto e sua adicção. Só por hoje eu não estico o braço ao traficante. Obrigado Poder Superior por mais um dia limpa.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

IMPOTÊNCIA

Ser impotente e sentir-se impotente. Somos impotentes ao que nos cerca, às vontades e desejos alheios. Não temos controle algum no outro. Isto é uma verdade que não se restringe apenas ao adicto, mas a todo ser humano.
Aceitar esta impotência é a parte mais difícil. Eu, por exemplo, estou tendo dificuldade para aceitar que uma pessoa com tudo nas mãos para mudar a própria vida e com todas oportunidades de se tornar uma nova pessoa, esteja neste exato momento ainda usando crack, bebendo martelos de cachaça no buteco e terminando com sua vida. Não aceito que essa pessoa não se interne, fique numa comunidade e se trate. Eu consegui ficar! Eu me tratei por 9 meses e por diversas vezes quis desistir. Mas minha força para me recuperar sempre foi maior. É difícil aceitar que os outros prefiram a miséria conhecida da drogadição ativa do que a assustadora incerteza da recuperação.
Como diz a Oração da Serenidade: "(...) aceitar as coisas que não posso modificar (...) modificar aquelas que eu posso (...)"; E eu só posso modificar a mim mesma.
Por mais que eu queira que outra pessoa pense diferente, aja diferente, queira mudar.. só posso estender a mão para aquele que tem o real desejo de parar de usar, aquele que realmente queira mudar, e não posso, nem devo ficar absorvendo problemas de uma pessoa que não queira parar de usar e pense, a cada uso, que "desta vez vai ser diferente".
E só por hoje eu vou continuar modificando o que eu posso, que é a mim mesma. Só por hoje devo me manter em recuperação e continuar crescendo, mesmo que doa (pois crescer dói mesmo). Aos outros com suas vontades próprias e à minha adicção, admito que sou impotente. Vou me permitir sentir isto, no dia de hoje.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

MEDO VS. FÉ


Medo do futuro. Sentimento que deve ser substituído pela fé.
Contarei um pouco sobre minha vida. Sinto ser possuidora de fé. Me sinto ligada a um Poder maior que eu, uma força criadora. O Deus de minha concepção, no dia de hoje, é o Deus que o programa de Narcóticos Anônimos me sugere que eu tenha. Um Deus bondoso e amoroso, para o qual eu posso entregar meu destino, minha vida, minhas vontades e o peso de meus problemas. Esse é, no dia de hoje, o Deus de minha concepção.
Às vezes sinto muita dificuldade em entregar tantas coisas em apenas um par de mãos, mas tenho a consciência de que em minhas mão elas não devem permanecer, consciência de que estão no lugar certo. Isto tem me ajudado em minha caminhada pela vida e principalmente em me manter sem fazer o uso de álcool e de drogas (no meu caso, crack e cocaína).
Em relação a minha fé (num futuro melhor, numa vida feliz e plena, em ter minha família), isto eu tenho. Sou carente de uma "figura" de Deus. Sou carente de uma religião, de conceitos, de práticas religiosas, de comprometimento dentro de um grupo religioso. Tenho necessidade de viver isto e no dia de hoje continuo minha busca. Sinto (com uma fé enorme) que minha busca está próxima de um final. Mas, entendam, a recuperação de um adicto é individual e isto é o que eu, Andrea Maria, preciso. Cada um sente suas necessidades e esta é a minha.