terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dias negros

Dias negros aqueles. Tormenta, trevas, sujeira. Defeitos de caráter estimulados, crescidos e aumentados. Eu vivi no inferno. Vivia incertezas diárias e só tinha um objetivo. Usar mais. Fosse mais uma dose ou a saidera, o importante e necessário era estar fazendo uso. Quando não tinha mais, o objetivo era adquirir. Quando tinha era usar. Um círculo doentio de busca, compra e uso. Não se saía desse carrossel de auto-destruição. Quanto mais eu usava, maior ficava minha tolerância à substância e mais ativa minha doença. Mais era a palavra chave. Mais gramas necessárias, mais doses diárias. Mais horas acordada, a milhão. Mais gastos. Mais destruição física, mental e espiritual. Mais velocidade, mais vontade. Os dias se emendavam e as noites eram, ou muito longas, ou curtas demais. Sem meios termos. Tudo eras ou não eras. Ausência total de equilíbrio. Concentração apenas no que se referia ao uso. Planos magníficos eram bolados em segundos. Estratégias dignas de um bom e maluco filme de ficção surgiam como uma estrela cadente, riscando forte o céu, marcando a retina, surprendeendo e impressionando, mas ao mesmo tempo tendo um fim tão rápido quanto sua aparição. Para fazer mais uso, passava na cabeça todas as opções possíveis e pensáveis, cabíveis ou não, lícitas ou amorais.
Dias negros aqueles em que eu não me amava. A cada uso um pouco mais de destruição. A cada uso uma roleta-russa. O que deveria durar 100 indo a 10 ia a 1000... Dias negros aqueles.
Hoje estes dias fazem parte de um passado de lembranças que me ajudam a manter-me como estou hoje, em recuperação. Lembrar-me das loucuradas, do constante suicídio, do nada em que eu havia me tornado, fortalece minha vontade de continuar em sobriedade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário